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O poder do fuso (parte 2)

Dois meses depois, cá estou eu com alguns resultados da última aventura. O mês de junho foi especialmente corrido pela própria natureza de meu trabalho como professora: notas fechadas e lançadas, diários organizados, etc, e não sobrou tempo para terminar de fiar a estopa. Assim que entrei em férias, no mês de julho, acabei a fiação, e me preparei para tecer. Entre despedidas e outros acontecimentos, fui aos poucos desenvolvendo o tecido, que foi simplesmente uma amostra. Preferi fazer alguns testes antes de engatar uma peça propriamente dita, e estes resultados serão compartilhados com vocês aqui neste post.


Em primeiro lugar, meu rendimento com relação à estopa bruta: produzi alguns novelos, em um total de aproximadamente 180 g. Isso quer dizer que perdi uns 20 g de estopa, o que de fato ocorreu durante a fiação, principalmente porque esta foi minha primeira experiência. Acabei desprezando partes de estopa que acabavam por se destacar do fio que estava criando, o que naturalmente indica o meu despreparo no processo. Mas, como tudo é curva de aprendizado, isso também fica de lição : nada se despreza! além disso, imagino que, uma vez na forma de fio, o material tende a pesar um pouco mais, ficar mais denso, e se esse for o caso, a perda deve ter sido ainda maior...(suspiros).


Ok, sem lamentações.

Partindo agora para a trama: como ia usar o tear de pente liço, aproveitei o momento para testar também um método para tecer em sarja e não em ponto tela - os detalhes deste método serão discutidos em outro post. O objetivo na verdade era ver se o relevo formado pela sarja, a tradicional escadinha, também seria visto. Não que isso faça diferença para este tipo de fio, mas era só um teste, e que me mostrou algumas coisas interessantes.



O protocolo aqui ajustado para a sarja é diferente de quando se tece somente em ponto tela, e assim, fiz um arranjo geral para uma densidade de 2 fios/cm no urdume. Para tanto, usei um barbante cru n° 4 e o pente 1:1 (detalhes sobre isso virão em outro post), mas se fosse tecer de maneira usual, usaria o pente 2:1. É possível ver que o início foi tecido em tela, e para isso usei um barbante achatado, que parece um cordão (Fial Extra). Assim que avancei umas 5 ou 6 duítes, introduzi o fio estopa (assim chamado por mim aqui) e comecei a trabalhar a sarja. Na foto, é possível ver um desvio à esquerda no desenho, ainda que de leve.


Eu tinha fiado uns 4 novelos, de tamanhos diferentes. O teste também foi importante para mostrar o rendimento, que devo dizer, nas condições propostas, foi baixo. Dos 4 novelos, dois (aprox. 80 g) usei para fazer este pedacinho que aparece abaixo, de aprox. 20 x 25 cm (após lavagem).









Depois de lavado e encolhido, fui avaliar a peça do ponto de vista de sua estabilidade. O tecido, como havia previsto, ficou robusto e firme, bem próprio para um tapete, por exemplo. A estopa aguentou firme a centrifugação à maquina, sem soltar as fibras - sinal de que a lavagem estabilizou o algodão, e o fio estava firme, apesar da fiação pobre, por assim dizer. A lavagem foi feita à mão, sem agredir o tecido, mas depois de pronto tratei de passar o aspirador de pó em cima, várias vezes, para ver se as fibras aguentavam sem se deslocar demais - e não é que o tecido é valente? Claro que vassoura, nem pensar. Também preciso relatar que a maciez foi uma grata surpresa. Como fiei com fibras penteadas e não penteadas (misturei dois novelos, um penteado e outro não), não sei dizer se a maciez é resultado da "carda". Precisaria refazer o processo avaliando fios penteados e não penteados, separadamente. Talvez eu faça este teste no futuro.


De maneira geral, conclui que, se eu quiser usar a estopa como um material para peças maiores, terei que ajustar o protocolo, provavelmente deixando os fios do urdume um pouco mais próximos, ou então usando outro barbante mais grosso, o que talvez seja mais adequado, para que ela não compacte demais. Para o desenho em si, 2:1 é adequado, mas se eu quiser aumentar esse rendimento terei que repensar, talvez 3:1 e um barbante 6. De qualquer forma, terei que fiar bem mais do que 1 saco de 200 g de estopa para projetos maiores, o que demanda entender o custo/benefício do processo. Não consigo me lembrar exatamente de quanto paguei pelo saco de estopa, mas com certeza não compete com fios industriais.


Embora trabalhoso, e pouco rentável, recomendo o processo a todos. Muito mais do que executar uma peça que pode ser vendida, fiar e tecer é construir a partir do elementar, do básico, do princípio. E isso é o máximo! E por falar em inícios, se não leu a parte I desta história, recomendo que o faça!




No próximo post, falaremos sobre tecidos, mas não planos: nosso papo será sobre knooking e seu divertido gancho: cabeça de crochê, cauda de agulha de tapeçaria. Este tem sido um assunto que tenho explorado bastante estes dias, e fará parte do nosso rol de artes têxteis.

Até lá!


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